terça-feira, 3 de maio de 2016

Meteorologia

Só pra te falar

Ainda chove
Não há buraco de nuvem para você entrar
Ainda chove
Me molho a contragosto e escondo a vontade de que a tempestade se intensifique, nunca pare
Me abrigo em débil telhado
Não há buraco de nuvem para você entrar
Ainda chove
A torrente parece querer perfurar a minha pele
Procurando um ponto fraco para invadir a carcaça
Não há buraco de nuvem para você entrar
Ainda chove
Esbravejo contra a tormenta, a mandando embora e me seguro no mais fraco apoio
Ainda chove
A derme se esfacela ante a fúria
O peito é invadido, em torrente se afoga
Ventrículos e enchem, veias são abrasadas e manchas se vão.
Grito, já não há mais dor
Tremo, já não há medo
Me contorço, há prazer
Lacrimejo, a saudade morre

Olha, há um buraco na nuvem.